terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O paleio técnico...



Gosto muito de ouvir o paleio técnico das polícias e alguns jornalistas, quando relatam "ocorrências" ou "situações".

Um carro, mota, camião, bicicleta ou até mesmo uma carroça, viram automaticamente uma "viatura", "velocípede", com ou sem motor ou um "veículo de tracção animal". Nunca se ouve falar dum desastre, é sempre uma "ocorrência", uma "situação", nunca intervêm pessoas nestas ocorrências, são sempre transeuntes, indivíduos, condutores, pedestres, etc. Por vezes, a polícia, quando a coisa corre mesmo mal, refere-se ao estado destes "intervenientes" como "já em estado de cadáver".

Numa reportagem que vi há dias, numa operação stop, a polícia encontrou um "réptil" de grandes dimensões, na parte posterior de uma viatura, o que, afinal, mais não era do que uma piton na bagageira dum carro...

As pessoas nunca são retiradas dos carros, " os indivíduos são desencarcerados" dos "escombros" ou "destroços" e, normalmente, os jornalistas relatam estas "ocorrências" deste modo: "do acidente resultou uma amálgama de ferros retorcidos", esta é fatídica, a "amálgama de ferros retorcidos".

É comum ouvir um oficial da Brigada de Transito fazer algumas pausas, procurando os termos correctos do paleio oficial, os desgraçados, claro que não têm a culpa, são normas que lhes são, obviamente, impostas pela rotina de procedimentos. Penso que isto se prende com uma necessidade de manter um certo "distanciamento" das autoridades mas, acho que as forças policiais poderiam ousar uma ligeira aproximação, ao mundo dos "vivos". Quando vejo uma reportagem, por exemplo, no Brasil, os polícias falam como toda a gente fala, sem termos "técnicos" que, por vezes fazem com que pareça que estamos a ouvir o Robocop.

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