Ora bem, "Lomografia"...
Até já vem descrito na Wikipedia...não se pode ligar ao que lá vem descrito, pois é apenas para rir...
Pois bem, o que é isto de Lomografia? É uma forma brilhante de vender uns pedaços de bosta soviética a que eles chamavam, curiosa e imaginativamente - Máquinas fotográficas!
Pensando e repensando a coisa, acabei por me dedicar um pouco a filosofar sobre a bosta e cheguei a uma conclusão inesperada!
A bosta deve ser a única substância que cheira menos mal à medida que apodrece!!!!
Senão, vejamos: um pedaço de bosta fresca tem um cheiro horrível mas, umas semanas depois, já não cheira tão mal!!!!!
Ora, as Lomo são como a bosta, a mim, já não me cheiram assim tão mal...
Bom, não vim aqui apenas para falar de bosta!
As Lomo, realmente, são uma grande bosta mas, vendem-se!!!!!???!!!
Houve um "adiantado mental" que resolveu importar para a Europa, as Lomo da Ex-URSS, não sei por que carga de água o fez mas, foi o que ele fez...
Como é que se consegue vender um pedaço de bosta com lentes de plástico?
Criando um culto em volta da bosta, pois claro! Então inventou o termo "Lomografia".
É Kitsch, é ex-soviético, é moderno, é o que está a dar para os gajos que querem ser "diferentes".
Um gajo diferente é um parvo que não tem jeito para nada, logo, embrenha-se numa cruzada em que, primeiro, se convence a si próprio de que é mesmo diferente (infelizmente, não é, é apenas parvo). Quando este objectivo é alcançado, lança-se noutra cruzada, mais enriquecedora e interactiva, a de convencer toda a gente de que, agora, é um gajo "diferente".
Para isso, é necessário um cenário a condizer:
- Compra um reposteiro preto e branco para enrolar no pescoço.
- Começa a treinar uma forma de andar "diferente", levantando os calcanhares mais do que o necessário, avançando em movimento ondulatório, acompanhado pelos ombros levantados quase à altura das orelhas, o que tem um efeito imediato, mesmo no observador menos atento, convenhamos...é diferente...
tem ainda a vantagem de ficar apenas com a ponta dos dedos de fora das mangas, o que, também é diferente...e moderno.
- Arranja uma namorada com saias compridas, até aos calcanhares, para se poderem apreciar as botas de infantaria, sempre elegantes e que emprestam a um pé um toque bastante feminino. Ela terá de ter patilhas, não poderá rapar nem os pelos das pernas nem os das axilas e muito menos os das partes fudengas...há que ser diferente...ela ainda terá de andar sempre com os olhos semi-cerrados.
- O gajo compra um bornal de carteiro na feira da ladra, para guardar os cigarros de enrolar e a Lomo, pois claro. Um gajo diferente não pode usar um saco da Billingham e muito menos uma mochila da Lowepro, um gajo tem de ser diferente, man!
- Inscreve-se na lista de candidatos a uma Lomo.
- Recebe a Lomo...com o kit de fita adesiva preta, destinada a tapar as entradas de luz, que o controle de qualidade russo deixa propositadamente passar, são ordens superiores...há que ser "diferente".
- Monta um altar em casa, onde deposita o manual de "instruções" da Lomo, o estojo, feito em material radioactivo reciclado em Chernobyl e a fita adesiva preta que não irá usar, pois uma Lomo é uma Lomo e essa merda das máquinas japonesas e alemãs, todas paneleirinhas, que só deixam entrar luz pela lente, não tá com nada!
- Espeta-lhe com um rolo negativo de cores e fotografa meio gato da vizinha, uma pega do caixote do lixo, um rolo de papel higiénico, um pacote de fraldas do irmãozinho, o taximetro do 190 D, a caminho do Cais do Sodré, uma pedra solta na calçada, 1/3 de sinal de estacionamento proibido, a lampada de neon no tecto da cozinha, um pedaço de jornal ainda com algumas escamas, cascas de tangerina em cima da bancada da cozinha...enfim, imagens que há muito andavam a marinar na parte superior do reposteiro...
- Vai mandar revelar o rolo, e manda fazer dez-quinzes, rezando para que tenha entrado luz na máquina....
- Meia hora de sofrimento atroz....a namorada torce, com ele...e sofre, como ele...os olhos dela nunca estiveram tão semi-cerrados…
- Finalmente, entregam-lhe o envelope, com os dez-quinzes, ele pega no envelope encosta-o ao peito e, de olhos fechados e cara amarfanhada, levanta a cabeça em direcção ao céu...
- Depois, respira fundo e decide abrir o envelope...
- Começa a ver as fotografias e a sua expressão torna-se muito séria, as fotografias estão esverdeadas, têm manchas alaranjadas, entrou luz na camera, além disso, estão todas desfocadas e algumas, até estão tremidas...
- Começa a chorar...sem conseguir conter a emoção...
- A namorada está sem palavras...põe-lhe os braços em volta do pescoço e diz que ama as fotografias e que pretende viver com ele para sempre (estas gajas têm olho e sabem muito bem que a vidinha lhes correrá bem se estiverem amancebadas com um génio!)
- No dia seguinte, candidata-se ao prémio BES e, obviamente...ganha!
...é um gajo diferente...
1 abraço,
NSD
sábado, 27 de fevereiro de 2010
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Perfeita a HISTÓRIA dos BESES !
ResponderEliminarE para quê ler livros de fotografia? :)
ResponderEliminarSó atrapalha! Eheheh
O pémio BES é então o prémio Bostar É Simples :-)))))
ResponderEliminarEsqueceste-te que depois ele com o prémio BES, compra uma Canon 5D MK II e dedica-se a fazer.... filmes com uma babylens!!!
ResponderEliminarEstá simplesmente genial!!!
ResponderEliminarO que eu já me ri!
É, sem dúvida, um retrato fiel feito por quem os conhece de "ginjeira":)))
E tu não imaginas que todos os anos tenho que responder (internamente, na Instituição) a uma proposta de realização de um curso/concurso de Lomografia que se apresenta com slogans como: "Não pense. Fotografe!", "Registe a cidade sob um outro olhar"... e balelas semelhantes. Felizmente, a instituição ouviu os meus argumentos e em vez de "investirem" na palhaçada lomográfica decidiram gastar em cursos de iniciação à Fotografia, rentabilizando o Laboratório existente, etc.
ResponderEliminarMas todos os anos tenho que responder à insistente pretensão de uma tal "embaixada lomográfica". Ora, e se se dedicasem ao RX, também é "Fotografia", não?
Abraço.
PS: Entrei por aqui em busca da tua bio, faz falta para a divulgação da tua expo "Da Vinha ao Vinho”, que vamos inaugurar aqui a 24 Abril, no âmbito da Geminação Lagos/Torres Vedras.
Olha, se mandasses uma biografia de autor é que era porreiro.
Abraço
Francisco Castelo
(efe)
Um texto divertido. Gostaria de saber onde vai estar patente ao público a exposição "Da vinha ao vinho"
ResponderEliminarSeria politicamente correcto aplaudir o teu texto, mas acho que no mundo da fotografia cabe muita coisa. Não devemos ser tão restritos.
ResponderEliminarParabéns pelas tuas fotos. Continuas em grande desde que te conheci no foto.pt
abraço!
Concordo com a parte "tecnica". As lomos não valem nada, e muito menos valem o dinheiro que custam. Mas já dizia a minha avó.. Tem de haver gostos para tudo.
ResponderEliminarUma boa máquina nunca fez uma boa fotografia. E alguma daquela bosta soviética é capaz de fazer muito boas fotografias.
ResponderEliminarTudo depende do kit de unhas...
Porque tanto ódio contra as lomo? Nunca liguei muito à fotografia até ver o que é possivel fazer com a tal dita "bosta soviética" que são as lomo. Se a lomografia fizer entrar pessoal para este mundo da fotografia que nunca se interessou por tal é assim tão mal? Ou estamos a falar de algo elitista que só quem está disposto a largar um ordenado mínimo por uma máquina sem ter noções nenhumas de fotografia, só para andar ao pescoço com um maquinão?
ResponderEliminarCerto é que as lomo não são assim tão baratas como isso, a qualidade também é discutível...
Também compreendo que um purista da fotografia olhe para as fotos tiradas por uma lomo e não veja qualidade, da mesma maneira que os puristas do som prefiram o vinil ao digital. Gostos... (No flames intended)
estou tao completamente de acordo que até tiro um pouco para fazer este comentário... finalmente alguem diz que o rei vai nu (e com uma maquina de bosta ao pescoço).
ResponderEliminareste tema sé não é tão relevante porque o digital matou a galinha dos ovos de ouro destes cromos.
Ah, e o nome Embaixada Lomografica, não é delicioso???
grandes cromos.
grouchomarx
Concordo plenamente. As Lomo não são "giras", não são boas e não são baratas. Há muita máquina usada, que se pode comprar, sensivelmente pelo mesmo preço, melhor, com um design genuinamente "retro", já que foram, efectivamente construídas na era de onde a estética considerada hoje "retro" veio, e com uma qualidade óptica e de construção, bastante melhor! Em relação às cores "retro", sou grande fã. Aliás, recentemente entrei numa loja da Lomo, em Berlim, onde comprei um rolo com as ditas cores alteradas. Mas usei-o numa Olympus OM-1. Uma máquina com cerca de 30 anos, que é sólida, tem uma obectiva 50mm com uma qualidade incrível, é pequena e além de tudo isso é linda! E é "retro". Win-win situation! Há que ser genuinamente "diferente"!
ResponderEliminarNa minha opinião acho que deve haver mais do que uma vertente na fotografia. Uma Lomo não custa muita mais do que 100€ tirando as LC-A que são lomo já com lentes de vidro e poucas chegam aos 80 e por ai. Uma lomo vale a pena na medida que dá para criar efeitos muito mais interessantes do que uma máquina normal. Que eu saiba uma digital não consegue fazer sobre-exposições de imagens mas pode ser que ainda se invente uma assim. Uma lomo dá muito mais liberdade de trabalho sendo o resultado final um completo mistério o que aguça o apetite as coisas. É bastante mais engraçado só se poder ver as lomografias depois da revelação do rolo. Há sempre aquela magia de como vão sair, se entrou luz.
ResponderEliminarA lomografia inclui também as Fisheye. Acham que não vale a pena? Podem comprar uma lente fisheye para uma Diana e com um adaptador usá-a numa Nixon mas não é a mesma coisa.
O design retro também é um mais. tudo bem que se podem adquirir câmaras com um ar retro e velhito. Mas uma lomo é perfeita. Alguns modelos são recriações das primeiras máquinas usadas.
algumas semanas atrás fiz um workshop na dita "Embaixada Lomográfica". Foi das melhores tardes da minha vida.
E hoje em dia ser "diferente" não é o que se quer? Na era do comercialismo onde as marcas como Canon dominam o mercado andar com uma diana ao pescoço torna-te diferente e até alternativo. ora, o que é alternativo é bom, o alternativo é o que se quer.
Por isso acho que Comprar uma Máquina Lomo (vou encomendar uma diana F+ Hong Meow este Fim de semana)vale mais que a pena, tanto vale o preço da máquina bem como ter umas lentes de plástico (desde que façam grandes efeitos nas fotografias). mas isto é só uma opinião sem querer armar nenhuma confusão. (:
Concordo plenamente com tudo que escreveu. Infelizmente vivemos num mundo onde o que é giro é DESCONSTRUIR...Há até cursos de desconstrução da imagem !!! Só que o pessoal exagera e passa a desconstruir a própria moral e a própria auto-estima. O que é de se espantar é que hajam curadores, criticos de arte e instituições que concordam e premiam a DESCONSTRUÇÃO, como se ele fosse construir algo de novo e aproveitável.
ResponderEliminarAbraços
Sidney Salú
Olá Nana, eu também sou músico e fotógrafo, tal como tu. E quanto ao que escreves só tenho a dizer o seguinte: não imaginas a cara de parvo que fiz ao ver as fotos vencedoras! E de repente pensei... ou sou um completo ignóbil ou isto é bosta da grande!!
ResponderEliminarGostei bastante do teu texto e depois de o ler começo a acreditar que é mais a segunda hipótese!! Ainda bem :)
Abraço
RD
Como o Teófilo disse e muito bem, há várias coisas que se fazem com uma Lomo que, para bem ou para mal, não se fazem com uma câmara digital.
ResponderEliminarPeço desculpa a expressão, mas o senhor é que é um grande "adiantado mental".
Olá Nana,
ResponderEliminarComento tardiamente, mas só agora vi este post...
Li com gosto! Há por aí tanto gato a fazer-se passar por lebre... (isto é uma maneira de dizer, eu até adoro gatos - tenho quatro -, mas isso é outra questão).
Abraço,
Rui